Um sonho realizado

Por Redação 25/09/2019

Sempre com um sorriso no rosto e com delicadeza para receber todos que chegam em seu restaurante, Sandra Baccarat é uma mulher que deseja e realiza. Conversando com ela em vários momentos foi possível perceber isso.

Quem já provou e aprovou os pratos – ou melhor, a verdadeira experiência gastronômica – do Barkanas 53 não deve nem imaginar que a cozinheira Sandra Baccarat, que comanda o restaurante, casou e não sabia sequer fazer um arroz. Mas como todo sonho cujo ingrediente principal é a paixão, o resultado final acaba sendo melhor que o esperado.

Há 30 anos no ramo de gastronomia, Sandra começou a desenvolver esse amor depois do casamento. “Meu marido era uma pessoa apaixonada por gastronomia e tem uma literatura maravilhosa. E a minha sogra, que é a verdadeira Baccarat, cozinhava muito bem”, diz ela. Isso ajudou muito a despertar o talento nato de Sandra e colocá-la em contato com o que hoje é sua paixão. Nos finais de semana, quer fosse em sua casa ou na da sogra, Sandra ficava de olho nos segredos para um bom prato. “Ela começou a me ensinar, eu comecei a gostar e decidi fazer um curso de três anos, em que eu aprendia de tudo: comida portuguesa, italiana, do dia a dia… Como eu sempre fui muito festeira, com minha casa cheia de gente, então realmente eu tomei gosto demais pela coisa”, diz Sandra.

Cada vez mais interessada no estudo da gastronomia, Sandra fez mais um curso em São Paulo, o que a ajudou a ter essa ideia eclética de cozinhar de tudo. “Você pode ver nos meus pratos, e eu até brinco aqui que quem aprender a trabalhar no Barkanas pode cozinhar em qualquer lugar, porque cozinhamos de tudo. Faço rabada, quiabo, dobradinha, pernil, risoto, cassoulet… Eu não tenho uma escola, uma linha”, afirma a cozinheira.

Apesar de ser um expert em pratos maravilhosos, Sandra começou com doces, mais especificamente em uma páscoa fazendo 200 pães de mel para dar de presente aos amigos dos filhos, que eram pequenos na época. Logo depois, começou a fazer festa na casa das pessoas. “Eu tive uma fábrica, a Florentinos, durante muitos anos. Começamos pequenos, mas

crescemos muito e eu cheguei a entregar 30 mil peças por mês. Eu abastecia clientes grandes como Volkswagen, entregava para o Santa Luzia e até estive na inauguração do hotel Renaissance, em São Paulo, com meu pão de mel”, orgulha-se a expert, que recebeu proposta até do Chocolate Du Jour para um projeto com eles. “Eu fiquei muitos anos só na linha de doces, mas não é o que eu mais gosto de fazer”, conta Sandra.

O trabalho na fábrica era exaustivo. Mesmo com 17 colaboradores, Sandra ficava muitas horas no Florentinos e chegou a dormir no chão da fábrica. “Foi uma época em que eu trabalhei muito e não vi meus filhos crescerem. Nesse período, meu marido sofreu um acidente na Imigrantes e ficou dentro de uma UTI duas semanas e mais um mês no hospital. Então eu me perguntei: o que eu quero para minha vida? Eu não vou ficar rica vendendo chocolate. Prometi parar com isso e fui diminuindo o volume na fábrica”, explica.

Tempos depois, surgiu a oportunidade de criar o Barkanas, que era um sonho de anos. “Há muitos anos, eu fui passar o réveillon em um lugar e fizemos a roda da fortuna, perguntando o que cada um desejava. E todos desejavam saúde, dinheiro, prosperidade e quando perguntaram para mim eu respondi: quero um restaurante na Azevedo Sodré”, lembra. “E eu fiquei durante muitos anos olhando aquela roda da fortuna, colei no meu guarda roupa e todo dia que eu ia dormir eu olhava”, completa. Por duas vezes, ela tentou seu espaço na Azevedo Sodré, mas ainda não era o momento. “Tinha um restaurante aqui que eu adorava e um dia a dona me ofereceu o restaurante. Ela me disse o valor que queria. E eu respondi que não tinha esse dinheiro. Sou muito pé no chão. Não faço nada além daquilo que eu consigo fazer”, diz ela.

Mas depois de algum tempo acabou dando certo. “Quando eu vim para cá, percebi que era exatamente isso o que eu quero. Eu era pequeninha, expandimos e agora tenho 80 mesas aqui”, afirma a chef, orgulhosa de atender 300 pessoas aos sábados – uma rotação de pessoas maior que três vezes a capacidade do espaço e um número impressionante se pensarmos que este é um restaurante em que o cliente delicia-se por mais tempo à mesa.

E qual é o segredo? “Eu acho que na realidade toda vez que eu viajo ou só visito outros lugares e capitais, eu observo muito os restaurantes e eu vejo várias coisas que as pessoas podiam fazer e não fazem. Eu acho que acabo ganhando o cliente, porque eu ofereço uma coisa a mais, dentro do que já temos de opção aqui”, explica ela.

Parte desse sucesso, Sandra dedica à sogra. “Tive a escola dela que foi muito importante para mim e realmente a Dona Ana cozinhava muito bem. Eu faço um cassoulet que é idêntico ao dela, o cuscuz eu aprendi com ela, e é uma receita diferenciada.” Muitos dos pratos que a sogra fazia foram referências para Sandra, que hoje também faz eventos no Barkanas. “Agora que estamos com a casa grande temos feito aqui. É sempre de noite e reservamos o espaço. Também começamos, uma vez por mês a ter a pizza, na sexta. A ideia é abrir a casa para pessoas que querem mostrar o trabalho, é uma ideia que eu estou criando. São pessoas que tem talento, mas precisam desse espaço”, diz Sandra.

Extremamente apaixonada pelo que faz, Sandra nem vê a hora passar: trabalha no mínimo 12 horas por dia. “Sexta-feira e sábado até passa disso! E em tudo isso tem muito amor. E também não é só amor, eu sou uma pessoa movida pela fé. Eu tive muitos momentos difíceis na minha vida. Mas eu nunca deixei de acreditar nas coisas. É uma relação de fé e amor que é muito forte”, enfatiza.

Com um espaço altamente simpático e descontraído na esquina da Azevedo Sodré, o Barkanas é a cara da Sandra, querida por todos e muito receptiva, sempre com um sorriso no rosto. Moderno, descontraído e com sabores diferenciados em uma comida leve, o Barkanas 53 é um sonho realizado, em que o principal ingrediente para o crescimento e o sucesso é o amor pelo que se faz.