Colunista

Mariana Crego

Arquiteta e Urbanista.

Como avaliar se uma construção é sustentável

Mariana Crego 29/05/2018

Um dia desses me deparei com uma empresa que não me chamava atenção em absolutamente nada. Sabe… nada? Mas por uma coincidência, acabei conhecendo a história da marca e me impressionei positivamente com o que descobri. A partir daí notei como esse tipo de surpresa começou a ocorrer com frequência e, por isso, antes de iniciar esse texto, posso fazer um pedido?

-Empresas: contem mais sobre seus ideais e trajetórias, isso é muito mais importante do que um marketing puramente estético, (além de que nos motiva muito mais saber que o mundo está repleto de pessoas corretas, ao contrário do que assistimos na televisão), -consumidores: perguntem pelos ideais e trajetorias das empresas para entender o que está por trás do que você está adquirindo, pois pode ser positivo ou não, e aí é melhor pular fora.
Quando adquirimos algo, falando em termos materiais, não significa que apenas compramos aquele item, mas sim que trocamos nosso trabalho e nossos dias por aquele produto e por toda a história por detrás dele. Portanto, o que você comprou vem com uma bela bagagem (ou não), que automaticamente você aderiu e concordou ao consumir; e particularmente, não me interessa comprar algo esteticamente incrível e descobrir que a empresa responsável não respeita valores essenciais.
E voltando para arquitetura, isso também é válido para quando adquirimos um apartamento, e aí como identificar os valores da construção ou da construtora? É uma dúvida que tenho ouvido muito por parte de pessoas que querem adquirir um imóvel e não sabem pelo que procurar.
Pra começar, sustentabilidade, ou responsabilidade social, ou como prefiram chamar, algo feito de maneira respeitosa e correta, é um valor que tem que partir de dentro de cada um, o que significa que devemos observar as atitudes e crenças das pessoas que fazem parte da empresa, principalmente as que a dirigem, em primeiro lugar. O que elas são por dentro é o que vai ser refletido. Um exemplo bobo, mas válido: a mesma pessoa que joga lixo na rua, não pode dizer que tem uma empresa sustentável. Quem desrespeita seus funcionários, ou se utiliza de mão-de-obra escrava para confeccionar uma roupa, como vimos em algumas notícias recentes, não pode dizer que se preocupa com o bem-estar do mundo, portanto procurar conhecer quem está por trás do nome é o primeiro passo.
A partir daí, alguns itens mais concretos podem ser identificados no edifício e na obra para saber se esses realmente seguem atitudes verdes, como por exemplo:
se aproveitam água de chuva: normalmente deixamos a piscina e os poços dos elevadores encherem de água e os utilizamos para as funções da obra – e tratamos, é claro;
destinação correta de resíduos: por lei, toda obra deve entregar para a prefeitura um planejamento estimado de destinação de resíduos e comprová-lo posteriormente, para receber o habite-se. E isso não precisa ficar no básico. Cada material já deve ser separado previamente na própria obra e uma maneira bacana de ir além e contribuir com a população é procurar por catadores, pois além de viverem disso, certamente enviarão o que recolheram para um local correto e específico; – medidores individuais: isso já é básico;

iluminação em led: igualmente básico, inclusive a venda de incandescentes é proibida no Brasil;
bacias e descargas mais modernas, que se utilizam de mais pressão do que de água: cheque o modelo, pois as mais novas tem tecnologia superior;
fornecedores bem conceituados que seguem normas e tem materiais certificados: você pode buscar as marcas na internet e ver o histórico de cada uma;
qualidade: pois a vida útil de um material significa menos lixo;
atitudes que evitam desperdícios de materiais: pode ser o auxílio da construtora na sua reforma, pois essa já sabe como destinar, ou orientações da mesma para com seus funcionários, por exemplo: antes de varrer o pó de obra, costumamos pingar um pouco de água no chão, assim uma quantidade tão grande não voa no vizinho e despensa limpezas maiores, ou utilizar parte do entulho para enchimentos de áreas não estruturais);
– preço não precisa ser qualidade, mas desconfie do que for muito barato, pois seguir as normas corretamente exige alto investimento e grande trabalho da equipe envolvida;
obra limpa e organizada:obra é obra, sempre vai ter uma baguncinha, mas existem exageros. Além de dificultar a separação de resíduos, pode gerar acidentes e pragas, e saúde é sinônimo de sustentabilidade;

histórico de acidentes :é complexo controlar o cuidado de uma equipe inteira, mas quando a obra tem sinalização e ausência de histórico de acidentes graves, significa que alguém por trás está se preocupando com a segurança de cada um ali;
com que tipos de eventos a construtora se conecta também pode mostrar um pouco a personalidade dos envolvidos;
vegetação no prédio : plantas não são baratas e exige cuidado, mas purificam o ar, o que é mais importante;
evolução e experimentação: você pode comparar as obras de uma mesma empresa entre si para analisar se novos (e melhores) materiais foram inseridos ou novos itens. Isso mostra interesse da empresa em evoluir e gastar tempo procurando alternativas mais eficientes para o ambiente e mais confortáveis para o morador, o que significa que cada produto é feito com atenção e gosto, e não como apenas um trabalho, ou uma linha de produção, o que seria um mal sinal.
ONG: é bacana saber se alguém da empresa tem algum envolvimento com filantropia, isso diz muito do tratamento que você vai encontrar principalmente depois que já adquiriu o apartamento e do acesso que você terá aos responsáveis pelo produto.
Outros inúmeros itens podem ser citados, mas acredito que a essência já está destacada, e ela se resume a basicamente: tudo! Sustentabilidade engloba tudo e qualquer ação e toda e qualquer responsabilidade.

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