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Valéria Guazzaloca

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Minha experiência em Bourdeaux

Valéria Guazzaloca 06/10/2018

Quando fui convidada pela A Tour France a passar alguns dias em Bordeaux, eu não tinha noção do quanto beber vinho nessa cidade é um hábito tão profundo e arraigado. Eu já estive em várias degustações e em vários

jantares com harmonização de vinhos, mas em Bordeaux é diferente: em lugar algum nos ofereceram um refrigerante ou um suco. Mesmo em restaurantes de refeições do dia-a-dia, o vinho é conditio sine-qua-non.Nos próprios cardápios, existe uma harmonização: já é sugerido o vinho que você pode beber. E isso é muito diferente aqui no Brasil, onde a bebida harmonizada com as refeições é de consumo dos instruídos, não um hábito natural da sociedade. Eu que, por exemplo, não bebo, passei sete dias bebendo vinho em todas as refeições. Outro ponto de destaque: não se vende vinho sem o acompanhamento de uma taça cheia de água. A bebida é tão importante para eles quanto o azeite para o português e a cerveja para o brasileiro. Mas nos conhecemos muitos brasileiros que na hora das refeições põe a cerveja de lado porque não sabe harmonizar.

Em Bordeaux, contamos ainda com o bom conhecimento dos garçons. Ele sabe o que oferecer. E o porquê daquela escolha. Se for falar de suas características, o garçom sabe de que casta o vinho é, se é do lado direito ou esquerdo do rio, ele tem esse conhecimento.

Mas não visitei somente restaurantes. Passeamos pelos vinhedos, de carro,e eu fiz uma pergunta sobre a altura das parreiras, com plantações de 1,60m em média e aparadas quase da mesma altura. Por que desse tamanho? E a resposta que me foi dada é que a preocupação dos produtores é a de que o vinho tenha maior aproveitamento de sabor. Por conta do nascer o sol (e como as temperaturas são muito amenas), há uma preocupação grande para que a luz solar entre até quase a raiz da planta. E eles cuidam unitariamente de cada uma. A paisagem lembra um jardim.

Tive o prazer de estar dentro do Château Guadet, local onde se nota a grande preocupação com a produção. A separação dos frutos é feita de um a um, antes de ir para a máquina para processar. Existe todo um trabalho e uma preocupação inclusive com os diversos tipos de madeira do barril para o armazenamento e, também, o quão seco e escuro é o lugar em que se armazena o vinho. Tive o prazer de conhecer o dono do Château Guadet. De acordo com ele, o vinho desperta para a vida quando você abre a garrafa e vai degustá-lo. Perguntei ao produtor como se escolhe um bom vinho. Ele me respondeu: “O que pode ser bom para mim, pode não ser bom para você. Quem escolhe um bom vinho é quem o bebe”. É claro que com todo esse trabalho de uva, dificilmente você não vai gostar do vinho de Bourdeaux. Mas o sabor do vinho é muito particular.

E o grande sucesso dos produtores da cidade é fazer o mesmo trabalho a cada safra buscando aperfeiçoar os métodos para se chegar ao melhor sabor. Como consequência dessa magnífica viagem, posso concluir que essa foi uma experiência diferente de tudo que vivi até hoje. Já visitei hotéis de grande porte, participei de degustações de grandes Enotecas, e já visitei vários eventos de harmonização em restaurantes, mas… em Bordeaux foi diferente. Eu fui inserida no hábito! Se eu ficasse lá 30 dias, seria incapaz de almoçar sem vinho. Essa é a sensação que eu tenho.

Mas o que fica para mim é muito claro: na hora da escolha de um vinho, vou optar por qualquer um de Bordeaux. Depois dessa vivência, fica fácil descobrir os motivos do hábito: os cidadãos de Bordeaux bebem o fruto do próprio trabalho.

 

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