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Consumo de café na gravidez pode causar alterações cerebrais no feto, aponta estudo
11/03/2021
Segundo pesquisa publicada em fevereiro na revista médica Neuropharmacology, a ingestão em excesso de cafeína na gestação pode mudar a organização da massa cerebral branca, levando futuramente ao surgimento de problemas como hiperatividade e déficit de atenção.
Durante a gestação, é natural que a mulher adote alguns cuidados e deixe de lado hábitos prejudiciais para evitar complicações que podem colocar sua saúde e a do bebê em risco. “Por exemplo, o consumo de álcool na gestação deve ser suspenso para evitar a condição conhecida como síndrome alcoólica fetal, o que pode fazer com que o bebê nasça com deficiências físicas, mentais e comportamentais. O mesmo vale para o tabagismo, que, durante a gravidez, pode aumentar o risco de aborto espontâneo, parto prematuro e morte perinatal, além de existirem maiores chances de o bebê nascer com baixo peso ou sofrer com problemas respiratórios”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. E os cuidados não param por aí, pois, de acordo com um estudo publicado em fevereiro na revista médica Neuropharmacology, o café também deve fazer parte da lista de restrições durante a gestação, já que, em excesso, a cafeína pode causar alterações importantes nas vias cerebrais do feto, levando futuramente ao surgimento de problemas comportamentais.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram imagens do cérebro de mais de 9.000 participantes de nove e dez anos do estudo ABCD, o maior estudo de longo prazo sobre o desenvolvimento do cérebro e da saúde infantil. Após compararem as imagens do cérebro das crianças com o consumo de cafeína relatado pelas mães durante a gestação, os estudiosos descobriram que as crianças cujas mães disseram ter consumido cafeína durante a gravidez possuíam mudanças importantes na organização da massa branca cerebral, o que pode estar relacionado aos problemas comportamentais apresentados por esse grupo de crianças, como hiperatividade e déficit de atenção. “Estudos anteriores já apontavam efeitos negativos da cafeína durante a gravidez, relacionando o consumo excessivo da substância à problemas como prematuridade, abortos e redução do crescimento fetal. Além disso, sabemos que a cafeína é capaz de atravessar a placenta e que o feto não possui a enzima necessária para decompô-la. Mas o presente estudo é inovador ao mostrar que a substância pode ter um impacto negativo duradouro no desenvolvimento neurológico da criança”, destaca o especialista.
Mas vale ressaltar que a pesquisa possui algumas limitações, como o fato de ser um estudo retrospectivo, baseando-se apenas na lembrança das mães sobre a quantidade de cafeína que ingeriram durante a gravidez. Além disso, não está claro se o impacto do consumo de cafeína no cérebro varia de um trimestre para o outro ou em que momento da gestação essas mudanças cerebrais ocorrem. Mas, apesar das limitações e das condições psiquiátricas apontadas pele estudo não serem consideradas graves, a pesquisa é válida para repensarmos as recomendações atuais sobre o consumo de cafeína durante a gestação. “Hoje, as diretrizes clínicas já sugerem que a ingestão de cafeína na gravidez seja limitada a, no máximo, duas xícaras de café por dia, lembrando que a substância não está presente apenas no café, mas também em alguns tipos de chás, energéticos, refrigerantes e chocolates. Porém, no final das contas, o mais importante é que você se atente as orientações de seu obstetra e discuta com ele qualquer preocupação que possa surgir durante a gestação”, finaliza o Dr Rodrigo Rosa.
FONTE: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.