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Austrália: um novo começo

Por 04/03/2013

 

 

 

 

 

 

por: Valéria Guazzaloca

Há alguns anos, era muito comum ouvir dizer que os brasileiros faziam de tudo para partir para os Estados Unidos, Londres e outros lugares. Para iniciar suas vidas, fazer um pé de meia ou simplesmente fazer um curso de inglês.

Com o tempo, os brasileiros foram expandindo seus horizontes e olhando para novos lugares, não só para estudar ou ficar por algum tempo, como também para morar. E a Austrália vem se destacando de uns anos para cá.

Hoje, já é comum ouvir um jovem dizer que quer fazer um curso por lá e, depois da experiência, o retorno fica ainda mais difícil. A readaptação em um país que tem impostos altíssimos como o Brasil e com tão poucas oportunidades. Pelo mundo, os impostos também são bastante altos, inclusive na própria Austrália. Mas a população brasileira é a que tem menos retorno dos impostos que paga ao governo.

As diferenças:

Levantamento feito pelo IBPT — Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário — com os 30 países que têm as maiores cargas tributárias do mundo, aponta que a carga tributária brasileira é de 35,13%. Isso significa que os impostos pagos pela população ao governo federal, Estados e municípios correspondem a 35,13% de toda a riqueza gerada no país — PIB. Mas, para verificar se os valores arrecadados estariam retornando à população por meio de serviços de qualidade, o estudo considerou também o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de cada país. Nesse quesito, o Brasil aparece em último lugar entre os países pesquisados, com IDH 0, 718. A Austrália, por outro lado, figura na primeira colocação.

Vendo essas diferenças, não é difícil imaginar porque pessoas como a professora Juliana Ferreira decidem abandonar o país e viver na Austrália. No começo de 2008, ela visitou o país pensando em ficar alguns anos lá para fazer um curso no exterior. Na época, estava solteira e iria dividir moradia entre amigos e amigas brasileiros na Austrália. Aproximadamente 30 meses depois, ela retornou ao Brasil — casada com um brasileiro, grávida e decidida a fixar residência em seu país de origem e dar à família o lar que sempre teve. Quando pisou em solo brasileiro de novo, ela estava convicta de que o Brasil seria o melhor lugar para ficar e suas primeiras palavras no aeroporto foram: “Agora nunca mais saio do meu país”.

Só que essa convicção se perdeu em meio aos problemas sociais do país. Como tinha vivido um tempo razoável na Austrália para comparar a qualidade de vida dos dois países, passados mais dois anos, Juliana retornou para a Austrália, com seu marido e a filhinha de um ano. O estilo de vida pesou na decisão: “Lá é calmo, tem pouco transito, pouca gente e menos barulho. Além disso, apesar de o custo de aluguéis ou compra de imóveis serem altos, é possível construir um futuro. O fato é que, na Austrália, todos têm oportunidades, seja uma faxineira ou um executivo”, comenta.

A vida lá

Juliana salienta alguns fatores muito diferentes de nossos hábitos e necessidades em vários aspectos. Um exemplo disso é o fato de o curso superior não ser predominante para se ter sucesso, na Austrália. Claro que estar bem preparado é importante em qualquer parte do mundo, mas em seus relatos, ela faz vários comentários que nos leva a perceber que a mão de obra de um pedreiro, de uma faxineira ou um empresário não diferencia as pessoas e todos têm sua importância reconhecida na roda da economia. Diferente de outros países, lá você vai encontrar pedreiros não só estrangeiros, pois não existe esse tipo de preconceito com padrão sócio econômico.

Mas nem tudo são flores no país da Oceania. Juliana também se lembra das dificuldades que encontrou. Uma delas é a língua, outra é a saudade da família… E algumas diferenças são notórias: lá as pessoas são mais comedidas, muito diferentes dos brasileiros.
Sua casa está localizada em Nother Beach, em Sydney. Quando questiono o que gosta de fazer a lazer por lá, ela comenta nas praias é comum fazer piqueniques. “Inclusive tem churrasqueiras elétricas nas praias, mas tudo organizado”.

E falando com Juliana chegamos à conclusão que estamos perdendo talentos e jovens em sua fase de capacidade de trabalho, dificultando ainda mais o crescimento de nosso país. Talvez aos olhos de nossos governantes quanto menos pessoas em nosso país, menos preocupação com saúde, escola, mercado de oportunidades… E falo em oportunidades porque mercado de trabalho é muito diferente de oportunidade. Lembro-me de ter ouvido na palestra do prefeito de New York, que os americanos são criados para serem seus próprios patrões, e gestores de seu próprio futuro. E em outra palestra de um gestor de uma multinacional, o palestrante pediu desculpas aos presentes e disse que aqui no Brasil criamos nossos filhos para serem bons empregados. Desejamos que eles estudem, façam alguns cursos de especialização e esperamos que depois de todo este investimento, cairá um bom emprego do céu. Mas na maior das vezes isso não acontece e nossos jovens vão buscar outras oportunidades bem longe daqui. Como fez Juliana.

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