Comportamento

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Justiça seja feita!

Por Clara Monforte 26/12/2014

Eram apenas dez horas da manhã quando subi as escadarias do Palácio da Justiça, para, depois de muitos anos a fio, seguir porta adentro do Tribunal do Júri… Dirigindo o meu carro, pela rua Brás Cubas, momentos antes, com o rádio sintonizado num som mais calmo do que o costumeiro, pois nunca neguei não ser o meu forte sair de casa antes das 11h, a menos que seja para caminhar à beira-mar, ia me questionando… qual a sensação que eu teria em assistir a um julgamento, depois de tanto tempo que não o fazia?
Saudade? Emoção? Prazer? Decepção… ou nada disso? Como voa o pensamento em poucos minutos! Como os sentimentos misturam-se em tão pouco tempo! Muitos e muitos anos se passaram e nunca mais eu havia pensado em fatos tão distantes, ou seja, em tantos outros júris assistidos durante madrugadas sem fim… E, diante a iminência de retornar àquele salão da justiça, o passado fez-se presente tão sorrateiramente!
Tudo está como era antes, com pequenas, porém, para mim, significativas exceções… O tempo não é inexorável apenas para aqueles que desfilavam pelos palcos daquele tribunal com os cabelos negros e, hoje, já pintados pelo tempo de grisalhos ou brancos; o tempo é irreversível também para os móveis e objetos que guarnecem o local, não oferecendo o mesmo conforto,  perderam o ar solene que a justiça merece ou… desculpe, merecia.

Deusa da Justiça
Os oficiais designados para os trabalhos usavam capas pretas compridas sobre calças escuras e camisas sociais, sendo que, os mais caprichosos, compunham as vestes com gravatas. As mulheres também tinham suas funções e, por sua vez, faziam questão de se apresentarem com os chamados “terninhos”… e não é que lhes ficavam muito bem para a ocasião?
Sempre amei ver julgamentos no Tribunal do Júri, embora jamais quisesse atuar. Sempre me ative a analisar a expressão dos sete jurados sorteados e aceitos pela Defesa e pela Promotoria, como se tentando adivinhar-lhes o pensamento… Coisa desagradável é flagrar um deles bocejando ou com ares de “pouco-caso”… Aquilo tudo é tão sério… Ali são julgados os crimes contra o bem maior que se tem… a vida!
O que senti? Não sou saudosista, nem que eu tente. Posso lembrar, relembrar de algo que ocorreu, seja em que circunstância for… é passado!  As pequenas porém enormes mudanças na Justiça também não me servem como decepção. Vejo-as como fruto da parte negativa da excessiva evolução, que, como tudo, tem dois lados… o bom e o ruim, o bem e o mal. Sou um tanto quanto difícil de me emocionar. No dia que aqui me refiro, vi ser feita a justiça, embora tardia e fraca, diante a barbárie cometida.
Naquele momento,  sem dúvida, dei uma circulada pelo passado e movida pela solidariedade fiz questão de sentar-me exatamente na mesma cadeira, na primeira fileira, no mesmo lugar onde, outrora, assisti grandes julgamentos no plenário do Tribunal do Júri de Santos.

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