Comportamento

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Falsa liberdade

Por Clara Monforte 13/12/2013

Tão logo recebi de presente o belíssimo quadro, foi paixão à primeira vista. Confesso que não entendi o seu significado, nem sabia como o artista que o pintou havia batizado aquela obra.

Nem sempre é possível alcançar, num primeiro instante, o que um artista quer dizer com as tintas que deslizam através de seus dedos ágeis e precisos. Então, quedei-me apenas a admirá-la e deixá-la envolta numa capa protetora até que me surgisse a ideia de colocá-la numa parede que eu julgasse merecedora de recebê-la.

Afinal, obras de arte têm que ser valorizadas como relíquias. Uma mulher, cabelos castanhos-claros, com um dos seios à mostra, parte das vestes vermelhas; uma gaiola numa das mãos, na outra uma rosa vermelha e um lindo passarinho em tom arroxeado – a cor da espiritualidade – em suas
penas, sentindo o delicioso frescor da flor. No olhar, leve tristeza que se mistura com um toque de meiguice.

Alguns meses passaram, até que a tela assumiu o seu posto. Como se propositalmente fosse, recebi a visita do artista plástico que a criou, e foi quando ele me disse: “o nome desse quadro é Falsa liberdade”. É claro que as portas abertas da gaiola simbolizam a mulher que a carrega, querendo se libertar. A partir daí, ficou bem mais fácil entender o porque de tanta beleza, além das cores e da expressão da tela, havia a riqueza do tema.

Ali, está representada a mulher de ontem, a de hoje e a de amanhã… inevitavelmente. Queira ou não, a liberdade no sexo feminino é relativa… a mulher é cobrada por tudo e por todos. A emancipação, sem dúvida, é real, mas as consequências também são evidentes.

Os elementos pintados no belo quadro exibem a exata simbologia feminina – a flor e a gaiola. Não há uma mulher sequer que, ao menos uma vez, não tenha carregado nas mãos uma rosa – uma rosa vermelha. É o amor, sobretudo, o incondicional que lhe é inerente. É a força com brandura.

Exatamente isso, o que digo não é paradoxal. A flor, apesar do aspecto frágil, é forte, resiste à natureza e, ao mesmo tempo, leva pureza e elegância aos ambientes, e alegria a quem recebe. Na gaiola – as grades de uma redoma, de onde gradativamente a mulher vem se libertando.
A analogia está formada. A mulher, por vezes com aparência delicada, é a coluna vertebral, é o sustentáculo da vida, a começar pela nobre missão de ter filhos.

Os homens reconhecem tácita ou expressamente, mas reconhecem… A partir daí, como ficam os anseios e os sonhos na tal da libertação? Essa questão é antiga e perene. As portas da gaiola já se abriram, um dos seios já está à mostra, o pássaro já surgiu para, talvez, ensinar como é…voar. O que
falta? A consciência de que o mundo foi feito assim, de que as características essenciais atribuídas à mulher jamais se alterarão… totalmente. E aí é que reside o grande mistério.

Por evidente, se esse enigma for plenamente desvendado, a mulher não será mais mulher e isso é impossível.

Clara Monforte é advogada e renomada colunista social de Santos.
www.claramonforte.com.br

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