Colunista

Mariana Crego

Arquiteta e Urbanista.

Entender a agricultura para aprimorar a arquitetura

Mariana Crego 31/01/2018

Antes de qualquer coisa, gostaria de sair um pouco dessa questão com uma dúvida: quem se pega assistindo as catástrofes no noticiário, fica chateado ou nervoso, mas no dia seguinte segue a vida normalmente e não toma uma atitude sobre o que assistiu? Quem assiste os intervalos comerciais nos quais várias instituições pedem por doações, ou quem recebe e-mails que pedem por nossa assinatura em algum abaixo assinado contra empresas que continuam destruindo ecossistemas ou ainda utilizam mão-de-obra escrava, mas nem doa e nem assina? Acredito que (ou quase) todos nós. Ficamos comovidos, revoltados…mas alguns minutos depois já esquecemos. É como se sentíssemos que aquilo está, de certa forma, tão distante de nós, ou que nossa atitude seria tão ineficiente e incapaz de melhorar algo, que permanecemos inertes, assim todos ao nosso redor.

Por outro lado, quem já não participou de uma ação beneficiente porque um amigo convidou, ou quem já não foi voluntário porque um parente o convenceu? Novamente acredito que todos nós. Mas como um convite de um amigo pode ser mais eficiente do que um discurso de um ídolo na televisão? Porque funcionamos muito mais com o que nos afeta ao nosso redor, do que fora dele. A energia de alguém próximo nos toca muito mais e nos desperta o sentimento de que sim, podemos fazer a diferença e realmente mudar algo para melhor.

Ok, e o que isso tem a ver com o assunto? A resposta é que é assim que funciona a natureza. Portanto é dessa mesma maneira que funcionam as mudanças que queremos provocar e é assim que funcionará na sustentabilidade. Uma ação pequenina compartilhada entre conhecidos provocará um efeito imenso que se alastrará de maneira extremamente eficiente como se alastrou o uso de painéis solares na Alemanha, apenas porque, acredite, um vizinho contou para o outro que ia colocar.

Tá… e qual o sentido do título? O sentido é que aprendemos isso olhando para a natureza, mais especificamente para a agricultura. Hoje em dia falamos muito em método de plantio de agrofloresta, que é quando plantamos uma série de itens juntos, ao invés de fazer uma monocultura. Quando podamos tudo, todas as plantas sentem a necessidade de crescer, e essa informação chega na terra e passa de uma planta para outra, cada uma com sua informação específica, e essa troca de energia, na mesma sintonia em direção ao crescimento, faz com que cresçam mais rapidamente e mais harmonicamente do que quando há apenas uma espécie com um único tipo de informação. É o tal incentivo entre vizinhos.

E pra chegar onde finalmente quero levá-los, descobri, ou melhor, redescobri o bambu para a arquitetura, em uma dessas conversas de podas. Como ele cresce muito rápido, (a colheita chega a ser anual), é podado muitas vezes e gera muito resíduo para se decompor na terra e auxiliar no crescimento das plantas que estiverem ao redor. Pensei que se cresce tão rápido, não seria um ótimo candidato a material sustentável?

Sim, o mundo inteiro está se voltando para esse material, já tão antigo, e que vem mostrando ser eficiente para produzir tudo e qualquer coisa; móveis, utensílios, ração de peixe, alimento (o broto é extremamente nutritivo e utilizado na China), substituto de parte da areia no concreto, pois contém sílica, substituto de carvão, pois pode ser utilizado como material de queima, serve para secagem de grãos, e sua fibra vem sendo utilizada da industria automobilística, aeronáutica, em vidros, em têxteis, e por último, vem pegando o lugar das estruturas de madeira na construção civil. Testes estão sendo realizados para que ele até tome o lugar do ferro na armação de concreto.

O Brasil iniciou seus plantios nesses últimos anos e estamos avançando para alcançar os outros países, mas conseguimos não só comprovar grande parte dos estudos, como já estamos produzindo uma série desses itens, o que é uma ótima notícia. Melhor ainda é que ele pode ser industrializado, ou seja, quem não gosta do aspecto do bambu, não precisa se preocupar, pois ele consegue ficar com aparência perfeita e sem os nós.

Como vou comprovar que isso não é só um discurso distante e sim uma realidade? Me coloquei a testar o bambu, e assim que conseguir êxito, vou contar aqui pra ver se conseguimos alavancar mais atitudes com o tal incentivo entre vizinhos.

Quem quiser trocar informações, sinta-se a vontade para entrar em contato pelo e-mail e aumentarmos nossa rede de ações conscientes.

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